Tradução do livro My Son Marshall, My Son Eminem. 9º Capítulo



Capítulo 9

Fred e eu voltamos a namorar. Mesmo ele tendo me abandonado quando eu mais precisei dele, eu o perdoei. Cuidar de uma criança doente era bastante difícil para mim, é de se imaginar que para ele era pior. 

Fred concordou em frequentar os Alcoólatras Anônimos. Eu esperava que ele pudesse ver porque eu ficava triste quando alguém bebia perto de Marshall. Eu sabia que o vicio era uma doença que corria na minha família. 

Eu experimentei álcool apenas uma vez. Era véspera de natal em 1975, não muito depois que me divorciei de Bruce. Todd estava com raiva porque o nosso padrasto, que sempre foi de beber muito, havia rejeitado o seu presente, uma garrafa de whisky. Então eu e ele sentamos no chão do banheiro e a bebemos. No primeiro copo eu não consegui beber e cuspi a maior parte, mas depois de algumas horas nós conseguimos terminar a garrafa. E dai eu vomitei. Perdi o dia de natal passando mal. Marshall passou a noite com o seu tio Ronnie, brincando com os presentes que eles haviam ganhado na noite de véspera. Eu nunca mais bebi uma gota de álcool desde aquele dia. Infelizmente, eu atraio homens que bebem. 

Para ser justa, na maioria das vezes que Fred bebia era longe da gente. Ele parava para beber alguns martinis na casa de seus pais, quando ele voltava do trabalho. Ou quando ele saia para jogar boliche com os amigos. Mas ainda me incomodava, e eu achava que ele frequentando a AA seria um passo na direção correta. 

Nós também decidimos nos mudar de volta a Missouri. Marshall estava triste no começo, mas logo seu tio Ronnie era novamente o seu melhor amigo. Eles chegaram em casa uma vez muito felizes porque eles haviam cortado os braços deles e materializado o seu pacto de sangue para serem irmãos. Eles eram loucos com hip-hop. Em nossa casa sempre tocava LL Cool j e Beastie Boys.

Uma noite, tinha acabado de anoitecer, eu estava fazendo cachorro-quente e hamburgers para o jantar quando a minha meia-irmã Betti, duas mulheres e dois homens apareceram na mina casa. Eu estava cuidando o bebê do meu vizinho. Eles tiraram o bebê dos meus braços e jogaram ela em uns tapetes, e espelharam a minha comida por todo lado. 

Betti veio ate mim. Eu estava entrando em casa quando alguém me agarrou pelo braço e me bateram na cabeça com uma garrafa. Eles seguraram meu cabelo e me arrastaram pela cozinha até o quintal. Eu gritei, mas Marshall estava no quarto dele com alguns amigos com o Nintendo ligado ao máximo. 

Betti gritava, "vadia, você está morta!" e fui arrastada pelo quintal até a calçada. Ela chutava o meu peito e me esmurrava, enquanto as outras mulheres me seguravam. Até os homens participaram e me chutaram com suas botas de cowboys. Depois eles tentaram me arrastar até o carro deles. Eu me lembro de lutar e gritar da melhor forma que eu podia.

Um senhor de idade, que passava pela rua de caro viu o que estava acontecendo. Ele deu um tiro para cima para espantar meus agressores. Eles correram e entraram no carro e foram embora. Eu achei que eles iriam tentar me atropelar mas eles partiram. 

Marshall apareceu quando o carro já estava saindo. Ele encheu sua mão de pedras e as atirava gritando "Deixem minha mãe em paz!"

O senhor me ajudou ate em casa. Eu acabei perdendo um de meus sapatos. Meu cabelo estava cheio de sangue por terem batido na minha cabeça. Enquanto a minha blusa branca estava encharcada de vermelho. 

Quando eu ia ligar para a policia, o telefone tocou. Era minha mãe.  

"Sua filha me bateu", eu disse.

"Você quer dizer, ela não te matou" ela respondeu. 

Minha mãe sempre fazia acusações loucas sobre mim. O seu ex-namorado era um motorista de ônibus. Não fazia muito tempo que havia mudado de volta para Saint Joe e ele ia me visitar. Por educação eu oferecia ele um café. Ele ainda amava a minha mãe, apesar deles estarem separados. Eu acho, que ele acreditava que eu poderia convencer ela a voltar com ele. Eu disse a ele para ficar longe dela. Eu disse que ela era como um disco arranhado, era o mesmo drama, varias e várias vezes. 

A policia chegou e me disseram para ir ao hospital. Eu tinha uma concussão, meu nariz estava quebrado, meu ombro deslocado, duas ou três costelas quebradas, e cacos de vidro em meu rosto, braços e pernas. Minhas costas também estavam machucadas, mas não sabia disso ainda.

"Você parece que foi atropelada por um trem" disse o médico. 

Eu estava cheia de sangue. Tive que cortar o meu cabelo porque o pente não passava mais. E pior, eu tivesse que usar uma cinta de plástico grosso em meu tronco. eu não podia dar um passo a frente sem a ajuda de um andador. Eu tive que aprender a andar de novo. Uma semana eu conseguia dar três passos, na outra seis. eu passava dias fazendo fisioterapia. O meu adorável fisioterapeuta, Chris Marsh, sempre me manteve positiva durante esse difícil período. Sem o apoio dele e deu meu médio eu acho que não teria conseguido. 

Os promotores se recusaram a entrar em ma ação contra meus agressores. Minha irmã alegou que eu os convidei para um churrasco. E depois eu os agredi com o espeto e eles só estavam se defendendo.

Desde criança eu fui acusada de várias coisas por minha mãe. Quando era mais jovem ela retirava os seus brincos, enrolava a manga da camisa, e vinha para o meu lado."Você não é muito velha para me impedir de bater em você", ela dizia, tudo porque eu defendia o meu irmão Todd.

Marshall e eu fomos visitá-la uma noite depois do meu curso de cabeleireira. Minha mãe, meu padrasto e meus irmãos já estavam jantando, Marshall ainda era muito novo para entender certas situações então ele já foi sentando na mesa. Minha mãe imediatamente falou que sabia que íamos passar lá na hora do jantar. Todd ofereceu o sanduíche dele à Marshall, mas minha mãe gritou com ele - Todd correu para o seu quarto seguido pelo meu padrasto que ordenava que ele voltasse para a mesa. Eu corri para o andar de cima para que ele não encostasse em Todd - mas ele já estava arrastando meu irmão pela escada abaixo. 

As pessoas que conhecem a minha família se surpreendem com a minha personalidade. De certo, eu deveria ter virado uma alcoólatra que vive dentro do bar com os meu filhos correndo soltos pelas ruas. Ao invés disso, eu lutei para ser exatamente o oposto. 

A ultima pessoa que eu queria ser era a minha mãe. A mãe na família deveria ser a pedra que a sustenta - a minha mais parecia um graveto. Eu não odeio a minha mãe porque acho que ódio é pecado. Apesar de tudo, eu ainda a amo. Mas na época, não importa o que eu fizesse, nada era suficientemente bom para ela. Eu falo que ela é somente a minha mãe biológica, porque esse é o único vínculo materno que ela teve comigo.

Quando eu estava crescendo, minha mãe tentou suicídio duas vezes na minha frente engolindo um frasco de remédios. Uma vez, eu a fui visitar no hospital depois de uma tentativa frustrada de overdose, e ela esmurrou o meu nariz. Não havia razão para isso, ela apensa quis fazer.

Música era a minha válvula de escape. E ai, para compensar a falha da minha mãe, eu dei muito amor para Marshall. 

No verão de 1985 eu descobri que estava grávida. Ninguém estava mais surpresa do que eu. Alguns anos atrás eu havia passando por uma gravidez ectópica* - o bebê começou a se desenvolver fora do meu útero na trompa de Falópio esquerda, e mais tarde eu tive um aborto. O médico falou que dificilmente eu engravidaria novamente. E agora eu estava esperando um bebê - eu estava em êxtase. Infelizmente, Fred e Marshall não compartilharam da minha alegria. 

Marshall tinha 12 anos e ainda era louco por coisas da pré-história. Quando eu perguntei a ele se ele queria que fosse menino ou menina ele respondeu: "Por que não podemos ter um filhote de dinossauro?"

A reação de Fred foi ainda mais estranha. Ele tinha quase 40 anos, adorava crianças, Marshall o chamava de pai, e este seria o seu primeiro filho biológico. Eu tinha dois meses de gravidez quando a mãe dele ligou dizendo que precisava dele em Michigan porque ela estava indo fazer uma cirurgia no olho. 

Eu pedi para o Fred não ir. Mas ainda assim, ele fez as malas. 

"Se você sair por aquela porta acabou. Não volte mais", eu disse.

Mas ele me deu um sorriso carinhoso, beijou a minha cabeça e disse que voltaria. 

As semanas se passaram e ele não voltava. Eu telefonei para o mercado Samra Meat - seu pai sempre foi muito amável. Ele prometeu que iria fazer o Fred ligar. Depois a mãe dele puxava o telefone e me ordenava a parar de ligar. Eu ouvi ao fundo que Fred estava tendo um caso com uma garota chamada Tina. Eu liguei e liguei, mas ele não me retornava. Eu estava arrasada. Não acreditei que ele tinha me deixado depois de sete anos juntos. 

Eu vendia Avon de porta em porta, mas a medida que minha gravidez foi avançando ficava mais difícil de conseguir subir e descer os morros de Saint Joseph. Era uma gravidez de risco e eu não podia carregar peso ou fazer muito esforço. Eu contratei uma amiga da família de Theresa para fazer as tarefas domésticas para mim em troca de casa e comida. Funcionou por um tempo, eu não podia pagar por ajuda. 

Alem da sua mesada, Marshall estava determinado a ganhar dinheiro cedo. Ele adorava break dancing, então ele fez um anúncio em papelão para as pessoas ve-lo dançar por 25 centavos. Depois ele me fazia ficar em pé no estacionamento, com o cartaz pendurado em meu pescoço, segurando uma lata para coletar o dinheiro. Por alguma razão ele apenas vestia branco para dançar. No momento em que ele parava de dançar ele estava imundo!

Pela segunda vez na minha vida eu fui forçada a usar do serviço social. Eu odiava, mas não tinha escolha. Fred não falava comigo, muito menos me mandava algum dinheiro. E quando as coisas não poderiam ficar piores, elas ficavam. 

No meu sétimo mês de gravidez eu estava conversando com o meu irmão Todd quando um homem louco apareceu do nada, ele se chamava Mike Harris. Ele me agarrou, levantou a minha blusa, segurou uma faca contra a minha barriga e gritava "Eu vou cortar o bebê e entregá-lo a você". 

Eu vi o fogo que estava em seu olhos. Claramente ele havia consumido muitas drogas. Minhas pernas dobraram. Todd bateu nele e o prosseguiu ate o fim da rua. Depois, ainda sem ar, ele me ajudou a entrar no carro.

O médico me internou o hospital, me ordenando a ficar lá até o fim da gravidez. O bebê não estava crescendo como deveria. Talvez um efeito psicológico do maluco com a faca. 

Um amigo cuidou de Marshall enquanto eu fiquei no hospital por dois meses, esperando e rezando para que meu bebê voltasse a crescer saudável.

Havia seis médicos especialistas me preparado para o pior. Havia uma chance que o meu bebê tivesse que ser transferido a outro hospital para ter uma cirurgia no coração. Graças a Deus ele nasceu bem. 

Nathan Kane veio chorando ao mundo em 3 de Fevereiro de 1986. Ele foi considerado prematuro.

Marshall não ficou impressionado."Envia ele de volta" ele ordenava. Depois como uma brincadeira ele dizia, "Eu quero um bebê dinossauro e não ele".

Alguns vizinhos diziam que Marshall, aos 13 anos, era muito velho para se interessar em dinossauros. Mas eu os ignorava. As mulheres falavam a mesma coisa quando Marshall fazia suas batidas ou break dance. Eles tentavam me dizer que ele era retardado. Ele não era retardado, ele gostava de música. Ele ganhou uma competição de poesia na escola. Seu verso foi exposto em um shopping local. Eu dispensava as outras mães dizendo que elas só tinham ciúmes do meu filho. 

*Gravidez ectópica é o nome dado a uma gravidez que ocorre fora da cavidade uterina, sendo o problema mais comum a retenção do óvulo nas tubas uterinas - chamada gravidez tubária.
Fonte e créditos á Eminem Forever

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